5 de junho de 2009

A nata... (e a borra também).

Hoje termina a campanha para as eleições europeias. Uma campanha como todas as outras. É sempre (e só), nestas alturas que a nata (e a borra também), da nossa sociedade política se lança nas ruas da nação na caça ao voto. Alugam-se salas, automóveis, organizam-se jantares, colocam-se as rotativas das gráficas em velocidade de ponta a vomitar papel com slogans. É sempre (e só), nesta altura que se visitam "aqueles" bairros manhosos, mercados, feiras, portos de pesca, dão-se beijinhos ao reformados. Fazem-se inaugurações de ultima hora para mostrar serviço. Aprovam-se medidas popularuchas. Mais uma estrada. Mais um centro de saúde. Lançam-se primeiras pedras, cortam-se fitas, desfraldam-se bandeiras.

Do nada esta gente torna-se, cada um à vez, o melhor aliado do povo, de uma nação. Um povo, uma nação, cansada, exausta, sobrecarregada de fardos diários, medroso de um futuro negro como um temporal de Inverno. Um futuro que se queria como um dia de verão. Solarengo, tranquilo, com uma luz que permitisse ver a linha do horizonte lá onde essa linha está. No horizonte. Mas o horizonte avança sempre que avançamos. Afasta-se à medida que para ele caminhamos.

Mas o povo (já), não é parvo, talvez exceptuando os fanáticos e acérrimos defensores de siglas, cores e discursos com jantar incluído. Está cansado. Cansado de contar trocos. De pagar impostos. De alimentar a insaciável máquina do sistema. De se ver apertado um pouco mais todos os dias. Está cansado de meias solas novas, pois não há dinheiro para sapatos novos. Está cansado de olhar para a tal linha e de não ver o horizonte. Está simplesmente cansado. E o que faz o povo quando está cansado? Vai de férias. Os que podem claro, que a vida não está para luxos. O povo entrega-se a esse seu direito (dos poucos que sobram), adquirido de nada fazer. A esse direito de rumar a qualquer lado onde não existam paragens de autocarro, metros abarrotados, trânsito (difícil escapar a esta), notícias tristes, miséria visível. O povo tenta escapar ainda que por uns dias a tudo isto.

Há noite, nas televisões lá estão os resumos exaustivos e dissecados das romarias de cada partido. Vital, Ilda, Miguel, Paulo. Os demais são tão pequeninos, que tal como o povo, passam despercebidos.... vota-se hoje (tal como sempre), na cara que mais agrada e não no plano real de trabalho de cada um destes novos D. Afonso Henriques da nação. Pergunto-me, quantos dos eleitores nacionais conhecem o programa eleitoral e respectivas medidas de cada partido?... fácil... nenhum. Acho que nem mesmo os fanáticos.

Durante duas semanas oferecem-se canetas, panfletos, porta-chaves, autocolantes, saquinhos, fazem-se promessas ocas esquecidas no segundo imediato. Apela-se há mobilização. Pede-se comparência na urnas de voto. Faz-se propoaganda. Chamam-lhe política! Chamam-lhe mudança.

Será que este gente não se apercebe que o povo não quer saber? Será que esta gente não se apercebe que ninguém lhes liga nenhuma? Será que esta gente não sabe que está vista pelo povo com um bando de corruptos, bandalhos, aldrabões agarrados a tachos e "jobs for the boys"? Será que não? Será possível? O povo quer é saber como vai pagar a renda no fim do mês. Como vai comprar novas meias solas. Como vai conseguir ir de férias.... o resto fica sempre na mesma.

Votar é também (por enquanto), um direito que assiste a este povo. Claro que não votar também é uma opção. Surge aqui a velha guerrilha de argumentos sobre qual das opções é a melhor via para se dar o recado à nata (e à borra também), da política social. Na verdade, se o povo vota, ganhe quem ganhe, nada muda! Se o povo não vota, ganhe quem ganhe, nada muda também. Não vou entrar por aí...

Eu por mim há muitos anos que tenho a opção tomada. Sinto na pele todos os dias a necessidade de saber como pago a renda no fim do mês. Como posso poupar no gasóleo. Saber para onde vou nas minhas férias.

Estas duas semanas passaram. A vida pessoal foi alterada na sua rotina. Parte do agregado familiar por razões profissionais desapareceu durante estas duas semanas. Confesso que a unica forma de ir deitando os olhos à futura mulher era acompanhar de perto os resumos televisivos. Lá estavam aqueles olhos lindos em todas as entradas de um determinado partido. A cobertura jornalística faz parte deste circo. Sem eles nada se poderia ver ou saber. Como acompanhei os resumos, mais uma vez constatei que nesta campanha a questão "Europa" nunca foi debatida. O que haveria para debater? Nada! Passamos sim duas semanas a ouvir ataques verbais (e alguns físicos) entre futuros salvadores da pátria. Um circo. E o circo tem como atracção maior, os palhaços. Fazem rir. Então o povo ri e aplaude os palhaços.

Este é a primeiro de três actuações do dito circo das campanhas eleitorais programadas para este ano. Termina hoje. Felizmente. E digo felizmente pois a outra metade do meu agregado familiar regressará finalmente a casa. Voltaremos à nossa rotina.
Este Domingo... é dia de ir votar... e eu como 60% ou 70% dos Portugueses... vou de férias.... antes que os palhaços cheguem, actuem e mas tirem.

Aquele abraço... o clássico.
70s

Sem comentários: