Gliding...

Eis esta onda que se levanta na bancada... aproxima-se... Imperdível. Começo agora uma remada. Sem esforço. Sem hesitação. Sem medo. Um sorriso atravessa a minha face... entre duas lufadas de ar, lanço mais uma remada. Tranquilo. Preparo o glide que me iluminará a alma. Será Imperdível. A perfeição da linha que agora se abre faz esquecer as ondulações revoltas de inverno. O mar picado. O vento. Tudo isso é passado. Será porventura uma frase feita... "depois da tempestade vem sempre a bonana!"... esta linha é isso mesmo, a anunciação da bonança que se aproxima. O prefácio das linhas que se seguirão...

Regresso a um real que me é conhecido. A um line-up tantas outras vezes ocupado. A um pico que na sequência das tareias de inverno mostra agora o carinho do verão. Não encontro mais ninguém. Não se vislumbra a nortada. Não se esperam nuvens. Espera-se sim, um jogo de pés e equilibrio que por uma última vez mostrará o desejo de ascensão. O iluminar de um momento Imperdível.

Este areal... este pico... esta linha... esta onda que agora se abre, tantas vezes sonhados, ansiados, desejados, rezados... longe vão as noites em branco, em torno de "ses" e "portantos"... em torno de previsões e cartas de marés... longe vão as noites de sono perdido para quem me acompanha no dia-a-dia... longe vão esses momentos de angústia...

Regresso a este areal. Consciente da dimensão da ondulação que se aproxima. Consciente da importância de um bom drop inicial. Consciente de um glide que tudo tem para ser perfeito. Para ser Imperdível.

Este é o meu glide... este é o meu momento... este é o meu sonho... esta é a minha onda... e será Imperdível.

Aquele abraço... o clássico.
70s