Crescer…
As crianças (dizem os adultos), são o melhor do mundo! Bom… quer dizer! Dizem… olhem para os que passam fome ou são maltratados! Mas enfim, não vou por aí hoje!... e também não vou pelo outro lado, dos putos de hoje que quase nascem de telefone de última geração numa mão e comando de consola na outra… não! Não vou por aí… mas quase…
Em criança… nos anos 70/80, cresci a viver a realidade de um país pobre (ou em vias desenvolvimento, curioso como ainda hoje é esse o estatuto deste país, embora o ache ainda mais pobre em todos os sentidos), marcado pelas cicatrizes da guerra colonial, êxodo de retornados, dinheiro curto, saudosistas de regime (anda por aí umas quantas vozes de novo), e claro está na dependência absoluta de pais da classe média, trabalhadora com dinheiro para o mês.
Ao contrário de uma ou outra excepção, os putos da minha rua tinham o mesmo cenário. Crescemos com o que havia… a brincar na rua… e a estudar na escola pública. Fazíamos carrinhos de rolamentos, desenhávamos e construíamos carrinhos de papel em chassis de caixas de ovo aos quais colávamos umas rodas de carrinhos telecomandados que se encontravam no lixo e que no fim, com dois fios e umas pilhas grandes andavam à nossa frente sem qualquer direcção. Jogávamos berlinde, pião, apanhada, esconde… ou andávamos à porrada. Ocasionalmente alguém aparecia com uma bola e vai disto… baliza de pedras de calçada e chuto prá frente (meu deus, muito vidro partimos nós às escadas dos vizinhos)…
Mas um dia por ano… um só dia… era Natal… precisamente! Ali… cada um em sua casa, olhávamos para os pequenos embrulhos de papel na expectativa (durante 1 mês), de saber o que continham. Os clássicos, as meias que a avó dava. As cuecas que a tia oferecia. O casaco que a abonada madrinha oferecia. Um por um… pacotes abertos na busca do brinquedo sonhado.
Cedo aprendi que crescer desta forma, e sem nunca me ter faltado nada, significava que o “brinquedo” aparecia… não se sabia bem qual nem como, mas aparecia. Nunca tive muitos… meia dúzia de carrinhos. Uns jogos de tabuleiro. E alguns Legos. O resto construía com papel, canetas de cor, caixas de ovos, resto de tampas de plástico, caricas, arame, tubo pvc.
1000 histórias se podiam criar assim… tão simples! Longe estavam os tempos das bicicletas, dos Spectrum (verdadeiras miragens) … vídeos era coisa de ricos.
O brinquedo que mais recordo com muito carinho… os Legos… imprevisível o que se podia fazer com aquilo. Peças de cores, encaixadas… castelos, carros, garagens, naves, aviões, muralhas, estradas… ans so on!... Sem dúvida, educacional, estimulante e divertido.
Agora aos 38, não me resta nenhum desses brinquedos. Talvez por isso, e porque hoje descobri este link… este natal me remeta numa viagem no tempo e peço (como sempre pedi), um único brinquedo… um Lego… não um qualquer (sim, era só um, mas o luxo era pedir o que mais queríamos) … quero este… uma VW T1… clássica e intemporal… de LEGO…
Agora… é sentar e esperar pela 00h de 24 de Dezembro, pode ser que entre as meias, cuecas e casacos o pacotinho-brinquedo apareça….
“Querido Pai Natal, sou eu o Alexandre. Este ano portei-me assim-assim. Não tive negativas na escola, mas dei uns tabefes ao Zé. A minha mãe ralhou comigo porque não lavei os dentes. Mas o meu pai disse que eu me portava bem a comer. Achas que te posso pedir o Lego da VW? Eu prometo que me porto melhor para o ano! Dás-me o Lego?... “…
:O)))) memórias! Porque no Pai Natal acredita-se sempre que se quer!
Aquele Abraço. O clássico.
70s
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