15 de abril de 2010

Jacobeu 2010 - dia 3

BRANCO.... A pureza! A ausência! ... e a melhor definição deste terceiro dia da nossa peregrinação.

Aleluia... 7h da manhã... o som de uma voz feminina enche o ar... é o prometido despertar no Pequeño Potala. O desayuno é forte e aconchega as forças para o dia que iríamos ter... a meta é Fonfria... não sem antes passar o alto do Cebreiro, Alto do Poio e Alto de São Roque.... e claro... enfrentando algo que já sabíamos que iria desabar sobre nós... neve!

(Joana e Magrit - saída de Ruitelan)

A saída de Ruitelan segue a tendência da chegada do dia anterior! Chuva! Muita! Forte! Chuva! Chuva! Chuva!... e vento!!!! Um vento forte e frio que queima as mãos e faz dobrar as copas das árvores...
Esta união dos elementos obriga a passos rápidos e olhar no chão... a chuva pica na cara, o vento queima a pele... 

A estrada dá passagem a Las Herrerias na base da montanha... daqui só resta uma forma de prosseguir... subindo.
(Chegada a Las Herrerias)

O alcatrão cede a um trilho de pedra, barro, bem no centro de bosque de cores fortes. Um trilho de subida acentuada que cobra todo o nosso esforço nas pernas e costas... a subida é dura.


(O início da forte subida ao Cebreiro - aqui ainda a 3km de La Faba)

Um par de horas mais tarde, a chuva deixa passar um pouco de céu azul e uns raios de Sol na chegada a La Faba onde tomamos o primeiro café da manhã.

(Saída de La Faba)

A saída de La Faba está a 4,7km do Alto do Cebreiro... e de uma curva do caminho a vista quer do vale, quer da montanha é absolutamente avassaladora.... o vento e as nuvens negras regressam e velam o nosso caminho até Laguna... onde encontramos os primeiros vestígios de neve...

(As vistas da curva de La Faba - ao fundo o Cebreiro)

Iniciamos a subida do ultimo trecho de caminho até ao Cebreiro... em nosso redor tudo está branco. Começa a nevar... o vento é fortíssimo. É uma luta desigual! A Joana abençoa a compra do casaco uns dias antes em Vila Nova Cerveira... sem ele não teria sequer chegado aqui.  Não há palavras para descrever a beleza, o silêncio, a dureza, a alegria, o esforço e o desejo de atingir o alto do Cebreiro.

(Passando Laguna, a neve dominou a subida ao Cebreiro)

Entre neve, frio e muito vento chegamos finalmente ao Cebreiro. Neve bastante! No entanto antes de nos refugiarmos para um almoço quente e reconfortante vamos até à porta do albergue do Cebreiro para podermos "ser vistos" na webcam da TV GALICIA que aqui existe. Um telefonema à família e aos amigos marca a nossa chegada... e essa mesma família e amigos marcam esse momento fotografando a imagem que a webcam lhes mostra. Estamos aqui. Estão 10 graus negativos... mas estamos aqui.

(Sim.. somos nós! Imagem da webcam da TV GALICIA)

Partimos como exploradores. E digo exploradores pois na saída da porta do restaurante somos literalmente tragados pelo nevoeiro denso e pelo nevão forte. Por razões de segurança optamos por sair do trilho e seguir a estrada até Liñares. Cantamos para aquecer. Falamos de chocolate quente e Churros.

Na saída de Liñares regressamos ao trilho que nos leva até ao Alto de S. Roque...

(Alto de São Roque)

... ali mesmo na beira da estrada e depois de muito lutar com a neve e o vento para conseguir chegar ao topo, encontramos a Estátua do Peregrino e não pudemos deixar de sorrir ao descobrir que caminhamos de frente para o nevão e o vento, na mesma posição que O Peregrino reflecte na rigidez do bronze...

(O Peregrino)

Seguimos caminho até Padronelo... e á perigosa e muito dura subida ao Alto do Poio.... aqui, num café podre e velho, D. Remédios recebe-nos com lágrimas, conversas sobre Nossa Sra. Fátima, chocolates e saudades de viver. A lareira acessa marca a presença do "homem" naquela imensa desolação branca.
(A dura subida ao Alto do Poio)

O dia faz-se longo... não pelos 20km da etapa, mas mais pela constante sensação de frio e desconforto. As três subidas do dia deixam as suas marcas e os pés gelados acusam o esforço do 3º dia de Caminho. Os peregrinos dizem que o 3º dia é sempre o mais difícil... é! E este apesar de difícil vai deixar muita saudade pela sua beleza.
(D. Remédios)

Deixamos D. Remédios abandonada a si mesma, como sempre esteve... e num ultimo esforço percorremos os ultimos 3km de caminho até Fonfria... a recompensa!? Um albergue fantástico (antiga casa de guarda de gado), onde os donos (originários das canárias), nos recebem com uma alegria e entrega que não se encontra em muitos locais...


(O Albergue de Fonfria)

Reencontramos também Sir John, Max, Arthur e Michael, Alfred e Monica...
A mesa de jantar é animada pela alegria da conversa e da loucura do ajudante de cozinheiro cubano que sem saber como veio parar a terras perdidas de Espanha... neva lá fora... iria nevar toda a noite (ao ponto de na manhã seguinte se constatar que caíram 6cm de neve fresca)... mas aqui, neste instante, neste albergue a alegria de ser peregrino aquece os corações e sorrisos...

Aquele Abraço... o Clássico
70s & JH

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