“Filho, Bom Dia! A tia Zulmira faleceu. O funeral é hoje em Marinhais pelas 16h.”
O mundo parou! As prioridades estavam totalmente alteradas! Um segundo, um bip-bip do telefone e a vida assume outro rumo, outro Caminho, outra urgência.
A matriarca dos Valentins acabava de partir. Uma viagem sem regresso! Os olhos cerrados e uma confiança total no que o outro-mundo terá para oferecer. Restava o corpo inerte e frio, inutilizado agora, sem reciclagem possível.
É hora de devolver o à terra, não para marcar o fim, mas a evolução.
Ao longo do cortejo a caminho da última morada e para lá do som dos passos apenas o chilrear dos pássaros, o baixar da cabeça dos cães, o vento que engrossa o frio. São minutos que se percorrem devagar, ao ritmo do crucifixo e panelinha da dianteira.
Respira-se tristeza, enxugam-se lágrimas, reviram-se as pedras com os passos.
A Tia Zulmira partiu… e a melhor forma de a deixar ir é aceitar que partiu. Cortar a ligação ao que o corpo nos deu, guardar as memórias, sorrir das travessuras, relembrar as gargalhadas. Deixar partir.
Sofre quem fica, dizem! Verdade! Sofre a dor quem olha a campa aberta e o baixar do caixão! Sofre quem no desgosto da hora revê familiares e amigos esquecidos no tempo. Sofre quem luta pela união da família. Sofre quem perde a Mãe, a Tia, a Avó… sofre-se! O tempo, dizem cura tudo, mas não cura a morte… um conceito tão nosso, tão humano. Lidamos mal com a morte, não nos resignamos a aceitar que é parte essencial de estar vivo. Que é apenas mais um passo na evolução.
Fica a casa mais vazia, totalmente vazia. Ficam as plantas do jardim sem água. Ficam as galinhas sem ração. Ficam as luzes apagadas. Fica o portão fechado. Fica a quinta deserta.
Fica o que fica. Fica quem fica. A Tia Zulmira partiu e com ela leva tudo o que precisa. Uma vida longa, sofrida, mas longa, em que o tempo foi generoso com os netos e bisnetos que viu nascer. Em que o tempo foi bondoso com a cura das maleitas. Em que o tempo foi carrasco com a perda de outros que partiram antes.
Resignemo-nos. É o que é… eu deixei partir… prefiro recordar a gargalhada, o jeito mandão e o espirro que calou a igreja no dia do meu casamento… há dias assim! Este foi só mais um.
Paz à tua alma Tia Zulmira… que vivas muitos e bons anos noutras paragens!
Do teu sobrinho.
ALEX
PS: Zulmira da Conceição Valentim, faleceu aos 80 anos de idade, no dia 08 Março de 2011. RIP.
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