Rasto dos meus dias…
Passa
o tempo devagar – diz a música! Mas passa! E passou mesmo!
A
P cresceu (e cresce todos os dias). Inteligente e muito atenta consegue
surpreender-nos todos os dias com coisas novas. A caminho dos 3 anos (o tempo
passou), é mais autónoma e funcional do que a idade “normalmente” lhe
permitira. Faz perguntas! Explica o que quer! Mostra surpresa! Relaciona temas
que numa primeira abordagem não se relacionariam. Pede novas desculpas ou
relembra uma traquinice qualquer que fez dias antes! Aqueles olhos
profundamente azuis cheios de uma gargalhada muito sonora que se confundem na
sua voz de bebé furam os meus pensamentos como que adivinhando o que lhe sinto.
Rastos....
Está
numa fase mais sensível. A G veio criar um novo lugar lá em casa. Fez ontem 4
semanas! Mostra-se mais calma e sossegada na sua presença do que a P era com o
mesmo tempo de vida. Chora menos (muito, muito menos que a P), dorme bem!
Cresce ao ritmo de 200gr por semana tal como se espera. Por vezes digo que
quando ela chora “é uma brincadeira de crianças quando comparada com o a P
chorava!”. A verdade é que os meus ouvidos não se revoltam ao som do choro. Fizemos
mestrado com a P. Ainda hoje ninguém acredita que um bebé possa chorar 6 ou 8
horas seguidas. Mas chorou! Uma aprendizagem que serviu de curso superior na
arte do aguenta e não reclama.
O tempo passou...
O
que me entristece, embora esteja plenamente consciente de que é uma fase (frase
que mais oiço dizer por estes dias), não são as breves ciumeiras da P quando
tenho a G por perto, não é o facto de não ter percebido ainda se o amor
duplicou e está igual para as duas, ou se simplesmente é tão grande que cabem
as duas “lá dentro” por igual no mesmo amor.
O
que realmente me entristece é um misto de divisão e ausência. Sinto que de
alguma forma traí a P por deixar de ser a única (e não, nunca seria filha
única, pois para isso basto eu e não gosto!), a minha menina, a minha princesa,
a minha mais que tudo, o meu mundo. Por outro sinto que estou a trair a G pois
ela nunca terá a atenção que teve a P quando nasceu. Não pode! Por muito que me
queira duplicar, desdobrar, tornar omnipresente… a verdade é que se com a P na
chegada a casa do trabalho todo o tempo era para ela, agora com a G quase (e
friso o “quase), todo o tempo é para a P. Há rotinas. Banho! Jantar! Lavar os
dentes! Ler a história! Adormecer!... só depois respiro fundo e penso… “Bom,
agora a G!”… mas muitas vezes a G já adormeceu depois do leite materno! Muitas vezes
as horas passaram (mais uma vez o tempo passa), e eu não cheguei lá.
Brincadeira de crianças
É
verdade que aqui e ali consigo multiplicar as mãos, como já fiz esta semana em
que com a G no braço esquerdo atendi ao pedido de ajuda para higiene após
utilização de bacio da P. Nem pensei. Um braço preso! O outro fez o que dois
fariam. Em bom português… seguro uma ao colo e limpo o “rabinosque” (como diz a
P) à outra. Tudo se faz!
Estarei
eu menos emocionalmente ligado à G… não creio! Estarei eu a não saber dividir o
tempo? Talvez!
Estarei
eu a dedicar tempo fundamental a ambas… sei lá! Caraças! Sei lá!
Sei
que estamos onde desejávamos estar! Com mais do que um “filho”! Com um sonho de
sempre concretizado! E todos os dias relembrado e agradecido pelos gestos da P
e pelos primeiros esgares de sorriso da G. O resto é só pó que fica para trás
no rasto dos meus dias.
Chegará
o dia (é só uma fase lembram-se?), em que a autonomia de cada uma me tornará em
alguns aspetos obsoleto e ultrapassado como uma qualquer eletrodoméstico.
Chegará o dia em que o tempo que hoje dedico a pedido de ambas serei eu a
pedir! Chegará o dia em que as fraldas, berços, carrinhos de passeio serão
substituídos por outras quaisquer necessidades próprias da idade e das modas de
uma sociedade como a nossa. Tudo isso será também pó no rasto dos meus dias.
Por
agora vou (como diz a J) sobrevivendo! Mais cólica, menos fralda, mais noite
mal dormida, menos horas de surf, mais brincadeira de bonecas ou menos viagens
a sagres, vamos sobrevivendo. Dividindo a atenção da forma que podemos face às
exigências de cada uma (G e P). Por agora os binómios A+P e J+G são a melhor
rotina que encontrámos. Um dia seremos uma equipa única A+P+J+G, quer dizer já
o somos, mas faltam essas rotinas de equipa e não de binómios. Sei que a J
sentirá mais ou menos a mesma coisa no sentido inverso. Com uma agravante – a sua
ligação umbilical com as duas – que a faz tremer quando está com a P e a G
chora… “é químico” diz-me a J. Não duvido! Sofre a J ao seu jeito… um jeito que
nunca compreenderei na totalidade pois nunca dei de mamar nem carreguei uma
vida dentro de mim.
Binómios...
E
pelo meio de tudo isto as exigências do trabalho… dos problemas familiares… Ajuda-me
pensar que no fundo lá adiante quando olhar para trás tudo não passará de um
longo, doce e belo rasto! O rasto dos meus dias.
70s.
(J/P/G
– vocês e só vocês… são o meu mundo! É bom regressar a este Oceano!)