27 de abril de 2011

Entre penedos e o Atlântico.

Há uma magia muito própria envolta numa penumbra histórica quando olhamos para o Atlântico. Somos um povo de descobrimentos. De conquistas. De feitos além-mar. E este é um Caminho de conquistas, de descoberta.

Os olhos perdem-se na vastidão da penumbra do Atlântico. Do alto de cada penedo deixamos que o olhar seja aliado do pensamento e investimos mar dentro até onde os olhos conseguem focar. O coração na batida mais alta e o peito ofegante marcam a compasso o peso da subida. Será aquele o penedo mais alto deste Caminho? Será aquele o penedo que nos permite olhar mais além. Por agora será, até que a penumbra nos revele uma nova calçada num novo penedo para uma nova vastidão.

Ali ao compasso do batimento cardíaco e da respiração ofegante enfrentamos o nosso mundo próprio como enfrentamos a vastidão do Atlântico. A chuva teima em embeber a roupa, em atrapalhar a vista. A ela junta-se a Nortada que aguça as orelhas e fura a roupa como se quisesse dizer, “estou aqui para te dizer que terás que me enfrentar também a mim para chegares ao teu destino”.

Mergulhamos em nós, como os navegantes mergulham na vastidão do Atlântico. Descobrimos novos penedos, novas vistas, novas penumbras. Penedo a penedo, desmontamos a subida, amparados nas incontáveis capelas pela mão invisível de quem nos alimenta a vontade que os músculos sugam em esforço. Descobrimos o navegante que vive em nós. O aventureiro. O descobridor. Descobrimo-nos.
Assim dimensiono as sensações que vivi neste Caminho da Costa. Trilhos novos para mim, num Caminho novo para mim. A descoberta do que se desconhece. A penumbra que envolve o desconhecido que enfrentamos a cada metro deste Caminho.

Km após km… pedalada após pedalada… conversamos com o nosso ser. Apaziguamos sensações e frustrações. Guardamos nas nossas gavetas os postais ilustrados que nos permitirão mais tarde saber que naquele promontório arrumámos na gaveta a questão que nos acompanhava.

Este é o Caminho ideal para essas conversas. As subidas são longas. A vastidão do Atlântico está ali à distância da penumbra. Sem receios… sem compromissos subimos as intermináveis calçadas romanas. Avistamos a lufa-lufa de quem passa na estrada nacional. Registamos o nome das ruas. Procuramos um abrigo para comer. Falamos com os entes queridos dando conta de mais um penedo conquistado…. De mais uma saudade acumulada.

Ali… pela Costa, onde antes outros se fizeram ar mar, também nós honramos o nome de família, deixando nos penedos e trilhos o suor de quem se faz a este Caminho. Um Caminho de penedos com vista para o Atlântico…

Aquele Abraço...
O clássico.
70s.

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